Era uma vez uma figueira, uma menina sonhadora e determinada, e uma mãe doceira (doceira de coração, não de profissão). Assim começa minha doce história com o figo. Venha comigo conhecer cada pedacinho dessa linda jornada!
Ah! Os figos me encantam! Me enchem de amor e me fazem sentir capaz, íntegra e consciente do meu tempo e do tempo das coisas. Ele é considerado príncipe das frutas cristalizadas aqui na Mazé Doces, lindo e firme impera com a força e o vigor dos jovens!
Um príncipe chamado figo
Sempre verde e robusto, o figo não mede esforços para combinar com as misturas e encantar paladares. Nas mãos de nós doceiras(os) espalhados pelo mundo ele é reinventado, e com glamour recebe todas as combinações que lhe é imposta, sem reclamar, sem azedar e principalmente: sem murchar! Contudo irá depender do cuidado no seu preparo!
Mas saiba que não foi sempre assim aqui na Mazé Doces, no passado quando ia fazer seu doce, eles viravam uma precata só! Porque como tudo na vida, os figos nos respondem ao que hoje lhes damos: o respeito, o devido tempo de cultivo e de preparo de seu doce!
Minha trajetória com o figo
Lembro com saudade dos anos de labuta que tive com eles. Muitos que me conhecem já sabem da minha história de amor e ódio com os doces. Mesmo eu não gostando e nem querendo, desde muito cedo minha mãe plantou em mim a arte de fazer doces, e não podia ser diferente com uma sementinha dele também, o figo.
Lá em casa, na roça, tinha uma figueira e é exatamente lá onde começa a minha trajetória com ele. Nesta época minha mãe me punha para colher os figos e já na figueira começava a minha agonia. Suas folhas e leite impiedosamente me castigavam com uma coceira insuportável. Para limpá-los um a um, passava uma faquinha ou então um pedaço de palha de aço. Depois de horas naquele labor meus dedos estavam feridos, e o doce assim meio amarelo, meio marrom estava pronto(isso porque minha mãe não tinha um tacho de cobre, ideal para fazer doce de figo verdinho). Mas eu não queria nem ver e muito menos comer aquele doce.
O figo ressurge novamente na minha vida
O tempo passou e por mais de 20 anos respirei aliviada e tranquila a cada fim de ano! Sem figueira, sem coceira e sem doce de figo para fazer! (risos) Mas como nada na vida é para sempre, no fim de 1999 ressurgia em minha vida os figos! Desta vez com uma necessidade e um desejo intenso de fazer diferente.
Não me lembro o porquê, mas coloquei na cabeça que queria fazer novamente o doce de figo, talvez fosse porque já fazia abóbora, mamão e laranja cristalizadas e o figo seria a inovação do momento. Mas o primeiro desafio daquele desejo foi encontrá-los.
No fim de uma tarde de domingo, eu, minha irmã Bete e meus filhos que ainda eram pequenos: Tirzah e Gabriel, fomos comprar figos na casa da Dona Amélia, lá no bairro Santo Antônio, aqui em Carmópolis de Minas. Dona Amélia era uma mulher primorosa, trabalhava no colégio Tancredo Neves e nas horas de folga cuidava de suas lindas figueiras. A disputa pelos seus figos era enorme, eles eram vendidos em litros a preço de ouro, bom pelo menos era o que eu achava, pois meu dinheiro era curtíssimo naquela época. E o que era pior, os figos que ela colhia não dava para freguesia. Já vi ali uma grande oportunidade, descobri que aquele doce era muito apreciado! Mas não consegui comprá-los naquele dia!
Já no ano seguinte, cansada de minha insistência, Dona Amélia passou a me fornecer um pouco de figo. Tinha um preço alto de R$5,00 o litro(antigamente era vendido por litro). Mas eu resolvi me arriscar e comprar, tamanho era o meu desejo de fazer o doce de figo. Figos nas mãos, começava outro grande desafio na minha vida! Primeiramente, limpar os figos, por outro lado agora já tinha uma receita.
Anote esta dica, pois é preciosa:
Misture 3 partes de açúcar com 1 parte de sal, e em um pequeno saco plástico coloque os figos e os esfregue. Enfim fazendo esse processo eles ficarão limpinhos!
A cristalização do figo
Porém o desafio maior estava por vir, fazer o doce cristalizado. Acontece que eu começava o processo e quando estava no final, amanheciam todos murchos, murchos mesmo! Não aproveitava nenhum. Que tristeza! Para quem já tinha uma grande dívida para pagar isso só aumentava o dividendo. E assim foram vários anos, nessa tentativa de erros e acertos.
Porém um dia entendi que era apenas uma questão de tempo, até mesmo os figos precisam descansar. Após três anos de prejuízo, consegui fazer figos inteiros sem murchar. Simplesmente porque respeitei o tempo de espera, que consiste em ferver, descansar por 24 horas, ferver de novo, descansar e aí vão dias nesse esperar. Mas aí também habita o segredo deles não murcharem, e ficarem bem saturados para o processo final, o ápice do fabricar do doce de figo, a cristalização.
Hoje fazemos com maestria esse doce aqui na Mazé Doces, quando olho para nossas delícias, figo puro, figo com nozes, com doce de leite, com doce de leite e nozes, compota de figo e até figada, sinto um contentamento incapaz de ser dito, apenas de ser sentido. E uma certeza enorme que desistir não é uma opção em nossas vidas, pois tudo é possível quando acreditamos e fazemos com amor.
Pense nisso e desbrave todos os desafios na sua vida, vença-os e seja feliz!
Quer aprender a fazer um delicioso doce de figo?